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Gichin Funakoshi recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Kenwa Mabuni e eu somos amigos muito próximos. Mabuni é um verdadeiro pesquisador sobre o Karate-dō, do tipo que raramente pode ser encontrado hoje em dia, é um especialista de destaque.

 

Quando nós vivíamos em Okinawa estávamos tentando reunir pessoas - Mabuni em Shuri e eu em Naha. Sendo assim, fundamos grupos para a prática onde recebíamos alunos. Estávamos tão envolvidos com isso que, às vezes, até esquecíamos que precisávamos comer e dormir. Nossa reputação se espalhou por toda a ilha, e mais e mais pessoas queriam se juntar a nós. Dia e noite, vinham as nossas casas para nos fazer perguntas e falar sobre coisas diversas.

 

Mabuni é uma pessoa com um bom coração e um caráter forte. Ele não se importava com antigos conflitos entre os diferentes estilos de artes marciais. Hierarquia de idade, também, não era importante para ele. Quando havia algo que não sabia, ele mesmo pedia ajuda aos companheiros mais jovens. E quando tinha aprendido algo de novo não mantinha apenas para si, na primeira ocasião em que tinha oportunidade compartilhava com todos do grupo que tinham o mesmo interesse.

 

Ele prefere a discussão aberta e, desta forma, superou completamente o clima de mistério típico de nossa época.

 

Por muito tempo ele tem coletado material. E, agora, está absolutamente familiarizado com todos os tipos de combates. Não há ninguém igual a ele neste sentido e não é exagero dizer que ele é o melhor neste assunto.

 

Ele iniciou reuniões entre os praticantes de Shuri e Naha, estava sempre aberto para críticas, melhorou todos os seus pontos fracos, batalhou para a aprendizagem de todos e para o desenvolvimento do grupo. Por isso, era admirado e respeitado por todas as partes. Não havia ninguém para criticá-lo.

 

Como eu soube recentemente, ele foi mudou-se para Ōsaka onde construiu boas relações, por exemplo, com a Universidade de Kansai, e lá está guiando muitos jovens, mostrando sua devoção à nossa causa em comum, para o benefício de nosso país e da nossa sociedade. Estou contente em dizer que, recentemente, seus esforços na região de Kansai foram reconhecidos corretamente. Agora, ele é bem conhecido e respeitado Então, devemos aprofundar as nossas relações e coordenar nossas atividades nas regiões de Kantō e Kansai e eu gostaria que ele assumisse um papel de responsável por nossa causa comum.

 

Eu escrevi estas memórias, porque mestre Mabuni me pediu para adicionar algumas palavras finais em seu livro.”

 

 

Ken’ei Mabuni recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Em sua juventude, muitas pessoas desafiavam meu pai para “Kake-dameshi” (desafio ou troca de técnicas) depois que ouviam que ele estava praticando “Te”. Ele aceitava esses desafios e escolhia um canto tranquilo da cidade para a disputa. Cada competidor trazia uma testemunha. Não havia dōjō especial como os de hoje. “Costumávamos treinar e lutar em campo aberto. Não havia iluminação pública, então, depois do anoitecer, usamos lanternas durante os desafios.” Sob essa luz fraca, o competidor lutava e, depois de um período, as testemunhas intervinham e interrompiam a luta. Eles declaravam quem era o vencedor e quem precisava de mais treinamento. Tais desafios eram comumente feitos ao meu pai, e ele frequentemente ficava como testemunha para outros. Ele ressaltava, porém, que as pessoas poderiam facilmente ter uma impressão errada desses eventos.”

 

 

Manzō Iwata recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“A primeira coisa que lembro do mestre Mabuni é sua personalidade gentil e modesta. Ele era raro entre os mestres de Karate da época, pedia modestamente instruções para qualquer pessoa sobre coisas que não sabia, a fim de obter um amplo conhecimento.

 

Ele aprendeu muitas formas na busca pela essência do Karate. Foi o primeiro a introduzir o conceito “bunkai-kumite”. Ele definiu o significado de cada forma (kata) e estabeleceu a maneira correta de usar cada kata para transmiti-lo à geração mais jovem. O mestre Mabuni foi muito rigoroso ao transmitir corretamente as técnicas e formas para nós. Tentou nos ensinar até entendermos o significado de cada técnica e cada kata. Ensinou-nos as respectivas características e diferenças entre as escolas de Ankō Itosu e Kanryō Higaonna. Não deformou o que aprendeu e era muito exigente sobre a transmissão correta das técnicas e das formas originais.

 

O mestre Mabuni também me pediu para absorver amplamente a teoria e as técnicas do Karate e me apresentou ao mestre Seiko Fujita, para aprender com ele. Tudo o que aprendi com o mestre Fujita foi bem valioso da minha vida e sou particularmente grato à recomendação do mestre Mabuni.”

 

 

Ken Sakio recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Conheci o mestre Mabuni em julho de 1939, quando precisei de cartas de apresentação para treinar com Miyagi, Chibana e Jōma em Okinawa. Eu pertencia ao clube de Karate da Universidade de Tōyō e nosso instrutor de Karate, mestre Chōyū Motobu, havia retornado a Okinawa devido à idade. Como não tinha outros conhecidos, pedi corajosamente ao mestre Kenwa Mabuni que escrevesse cartas de apresentação para que encontrássemos outro instrutor de Karate. O mestre Mabuni fez a gentileza de me encontrar, um aluno desconhecido, e de dar cartas de apresentação com bons conselhos. Foi através dessa conexão que vim a aprender Karate com o mestre Mabuni.

 

Desde dezembro de 1941, quando o Japão entrou na Guerra do Pacífico, todos vivemos vidas precárias. Mas fiquei encantado com a personalidade do mestre Mabuni e com o seu Karate, e me dediquei à prática com mestre Mabuni, valorizando o curto período que me restava até meu alistamento em abril de 1941. Lembrando aqueles momentos, ainda sinto profunda gratidão pelo mestre Mabuni e a Sra. Mabuni, por me permitir ir todos os dias com minha lancheira e praticar Karate até tarde da noite, esquecendo a hora do último trem.

 

Mestre Mabuni tinha 50 anos na época e estava no auge. Suas lições eram tão exaustivas, entrando em tantos detalhes minuciosos que fiquei constantemente surpreso com sua vitalidade em buscar a essência do Karate. Isso foi há cinquenta anos. Tenho vergonha de que, apesar dessas lições gentis do mestre Mabuni, com tanto trabalho, permaneço imaturo na arte do Karate.”

 

 

Yoshiaki Tsujikawa recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Quando me lembro dos dias de treinamento na Dai Nippon Karate-dō Kai, por volta de 1937, lembro-me do mestre Kenwa Mabuni, com seu olhar gentil, sentado na frente ladeado por Ryūsei Tomoyori e Yoshikatsu Hase.

 

A prática naquela época compreendia principalmente as formas básicas, juntamente com o kumite, com a combinação de quem atacava e defendia. O kumite livre era usado apenas em ocasiões especiais. O treinamento era duro e difícil. Tsuki e Keri eram realmente feitos sem parar, e Nage e Gyaku também eram muito empregados. O traje de Karate não era inteligente como hoje. Usávamos a jaqueta acolchoada do Kendō e as calças do Jūdō. Durante o treinamento, o tecido costumava rasgar com bastante frequência. As lições do mestre Mabuni eram muito severas, diferentemente do estilo moderno que é mais gentil.

 

Durante todo o tumulto da era do pós-guerra, o mestre Mabuni, embora lutando contra a pobreza, esforçou-se por contribuir para a reconstrução do Japão através da difusão do Karate-dō, dedicando-se à promoção do Shitō-ryū.

 

Infelizmente, faleceu repentinamente em 23 de maio de 1952, antes de poder realizar suas aspirações. Lembro-me claramente de como todos nós, alunos do mestre Mabuni, nos comprometemos a realizar os desejos de realização de nosso mestre.”

 

 

Tokio Hisatomi recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Foi por volta de 1950 que comecei a aprender Karate com o mestre Kenwa Mabuni, que já estava em seus últimos anos. O nome da escola do mestre Mabuni era "Yōshūkan". Parecia uma peça, não tão espaçosa, de uma casa particular normal.

Mestre Mabuni sentava-se reto e calmo no banco do mestre na frente, sem se mexer. Às vezes, parecia estar dormindo. Mas, observando minha prática, se levantava e vinha até mim com calma e me mostrava os detalhes com muito cuidado, com explicações fáceis. Ele falava com um sotaque levemente provincial e era muito afetuoso com todos.

 

Uma situação que presenciei com o mestre Mabuni é inesquecível: ele estava de pé naturalmente com as mãos abaixadas e me disse para atacar. Mestre Mabuni tinha uma constituição frágil e parecia estar velho. Então, senti hesitação no meu ataque. Eu apliquei um Oi-zuki no mestre, mas o ele desviou um pouco dizendo não, não foi forte o suficiente. Depois de repetir as mesmas coisas, várias vezes, fiquei sério e ataquei com todo a minha força. Ele se esquivou levemente e já estava em posição de contra-atacar. Fiquei verdadeiramente surpreso com o modo como o mestre Mabuni se comportou de maneira tão flexível e leve.

 

As formas e técnicas que aprendi com o mestre Mabuni, e os elogios do mestre, vêm a minha mente cada vez mais fortes com o tempo. São minhas técnicas de Karate favoritas.”

 

 

Toshiyuki Imanishi recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Entrei na escola de mestre Mabuni em 1945, quando tinha 14 anos, e fiquei muito perto dele por sete anos, até sua morte. Embora jovem, eu estava empolgado com o Karate, atraído pela maravilhosa personalidade do mestre Mabuni e seu profundo conhecimento da arte.

 

Hoje, me lembro muito bem daqueles dias em que eu estava literalmente mergulhado no treinamento de Karate com o mestre Mabuni de manhã, na minha escola à tarde e novamente no mestre Mabuni à noite, durante minha época do ensino médio e superior.

 

Em alguns dias, durante o treinamento da manhã, éramos apenas dois, mestre Mabuni e eu. Nessas ocasiões, o mestre Mabuni me ensinou técnicas, que eu não conseguia dominar, em pequenos detalhes. Foi minha alegria suprema ouvir as histórias e experiências do mestre Mabuni enquanto fazíamos as refeições juntos após o treinamento.

 

Quarenta anos se passaram desde então. Agora, o Shitō-ryū Karate-dō, criado pelo mestre Mabuni, com os esforços de muitas pessoas talentosas, tornou-se um grande tronco com muitos ramos vigorosos em todo o mundo.”

 

 

Kazuo Kokubo recorda dos dias com Kenwa Mabuni

 

“Entrei na Universidade de Kansai em 1948. As cicatrizes da guerra estavam vivas e nosso objetivo era sobreviver às turbulências do período pós-guerra. Reabrimos o clube de Karate da minha universidade e convidamos o mestre Kenwa Mabuni para nos instruir.

 

Também me foi permitido entrar na sede em Ōsaka. O treinamento se concentrou em aprender artes tradicionais. Kenwa Mabuni nos ensinou da sua maneira única.

 

Lembro-me de como as roupas de Karate eram usadas em farrapos. Era difícil obter comida e nossa força física era baixa. Mas continuamos treinando Karate, mesmo quando nos sentíamos prontos para entrar em colapso.

 

A escola ficava na casa de Kenwa Mabuni. O lugar estava cheio de poeira, pois treinamos sobre Tatami de cabeça para baixo e o chão era instável. Mestre Mabuni usava um capuz antiaéreo e uma máscara enquanto nos ensinava Karate.

 

Nós comíamos para viver. Isso era o mais comum naqueles dias. Nós praticávamos Karate e literalmente comíamos mingau de arroz. Também fomos ao Monte Shiragi em Nara para um campo de treinamento de 5 dias com o mestre Mabuni. Todos nós trouxemos comida: arroz, carne, legumes, etc. Lembro-me muito das histórias interessantes que o mestre Mabuni nos contou sobre seus dias de treinamento em Okinawa, trocas entre mestres em outros Budō, as artes do antigo Budō e os episódios de seus mestres e colegas.”

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Referências:

TANZADEH, Allen. Master Gichin Funakoshi Founder of Shotokan Style. Sensei Tanzadeh Shitoryu Karate Cyber Academy. Disponível em: <http://shitokai.com/>. Acesso em: 24 de agosto de 2017.

CARTER, Adam. Masters Recall. Shuriway Karate & Kobudo Website. Disponível em: <https://www.shuriway.co.uk/>. Acesso em: 24 de agosto de 2017.

*Tradução e adaptações dos autores.

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Memórias sobre Kenwa Mabuni //

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