


Kihon (基本)
O termo Kihon significa literalmente “fundamento” ou “base”, e designa o conjunto dos princípios fundamentais da arte. A prática do Kihon é indispensável para que o praticante de Karate-dō obtenha pleno desenvolvimento em seu treinamento, pois é por meio dela que o karate-ka aprimora seu equilíbrio, postura, coordenação, velocidade e precisão.
Além disso, é durante o estudo do Kihon que se assimilam os deslocamentos (unsoku) e se aperfeiçoam as técnicas de defesa (uke-waza) e ataque (tsuki, uchi, keri, ate). O Kihon constitui, portanto, a base sobre a qual se constrói o desempenho técnico e expressivo nas formas (kata), antes de sua aplicação prática no combate (kumite).
Quando os exercícios de base são realizados em movimento, recebem o nome de Idō-Kihon (移動基本), que significa “fundamentos em deslocamento”.
De modo geral, a prática do Kihon é dividida nas seguintes categorias:
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Tachi-gata (立ち方) – posturas e bases;
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Uke-waza (受け技) – técnicas de defesa;
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Tsuki-waza (突き技) – técnicas de soco e estocada;
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Uchi-waza (打ち技) – técnicas de golpe com as mãos e braços;
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Ate-waza (当て技) – técnicas de impacto e contato;
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Keri-waza (蹴り技) – técnicas de chute.
O domínio do Kihon é considerado essencial para o progresso nas demais etapas do treinamento, pois representa a estrutura física e mental sobre a qual todo o Karate-dō se sustenta.
Kata (型)
Os Kata, ou “formas”, são parte essencial da vida de todo praticante de Karate-dō. Representam os ensinamentos preservados de mestres antigos e, portanto, um legado técnico, cultural e filosófico transmitido às gerações contemporâneas e futuras.
Compreender o contexto histórico e marcial no qual os Kata foram criados é fundamental para compreender o motivo de sua preservação até os dias atuais. Cada Kata codifica princípios táticos, estratégias de combate e conceitos filosóficos específicos de determinada escola (ryūha), diferenciando os estilos entre si.
Estes Kata continuam sendo tão válidos hoje quanto eram há séculos, pois desenvolvem as aptidões físicas, cognitivas e marciais de seus praticantes.
Deve-se praticá-los até que seus movimentos se tornem instintivos (mushin no kata), condição que reflete o verdadeiro espírito da técnica.
De forma geral, os Kata são classificados em três grupos:
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Formas fundamentais (kihon-kata),
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Formas de mãos fechadas (moderna influência japonesa), e
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Formas de mãos abertas (origem okinawana e chinesa).
Cada Kata é composto por uma sequência de técnicas interligadas que expressam princípios de ataque, defesa, transição e deslocamento. O estudo e compreensão dessas técnicas e conexões é denominado Bunkai (分解).
O termo bunkai é frequentemente traduzido de maneira imprecisa como “aplicação” do Kata, mas sua tradução mais correta é “análise” — ou literalmente, “entender as partes”. Já a aplicação prática dos princípios contidos nos Kata é chamada Ōyō (応用).
No estilo Shitō-ryū, o mestre Mabuni Kenwa (摩文仁賢和, 1889–1952) utilizava a expressão Bunkai-Kumite (分解組手) para descrever essa aplicação combativa derivada da análise do Kata.
Dois outros elementos fundamentais relacionados aos Kata são:
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Enbusen (演武線) – a linha ou trajetória de execução;
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Kyūsho (急所) – os pontos vitais de ataque e defesa.
No Karate-dō moderno, existe também a modalidade esportiva denominada Shiai (試合). Dentro dela, o Shiai-Kata é subdividido, conforme as regras e entidades organizadoras, em:
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Shitei-Kata (指定型) – formas obrigatórias;
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Sentei-Kata (選定型) – formas selecionadas;
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Tokui-Kata (得意型) – formas de livre escolha.
Kumite (組手)
O Kumite, literalmente “mãos unidas” ou “encontro de mãos”, representa o aspecto combativo do Karate-dō. Existem diversas formas de praticá-lo, e seu principal objetivo é colocar em prática as técnicas aprendidas e aperfeiçoadas no Kihon e no Kata.
O mestre Mabuni Kenwa classificava o treinamento de Kumite em quatro tipos:
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Tanshiki-Kumite (単式組手) – combate simples, de técnica única;
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Fukushiki-Kumite (複式組手) – combate de técnicas combinadas;
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Hōkei-Kumite (法形組手) – combate formal ou pré-arranjado;
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Shinken-Kumite (真剣組手) – combate real, sem restrições.
Atualmente, as denominações mais comuns são:
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Ippon-Kumite (一本組手) – combate de um golpe;
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Nihon-Kumite (二本組手) – combate de dois golpes;
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Sanbon-Kumite (三本組手) – combate de três golpes;
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Yakusoku-Kumite (約束組手) – combate combinado ou coreografado (equivalente ao antigo Hōkei-Kumite).
No Shitō-ryū, o Yakusoku-Kumite é tradicionalmente composto por cinco séries baseadas nos Pin’an (平安) ou Heian Kata.
O Shinken-Kumite, também conhecido como Jiyū-Kumite (自由組手), é o combate livre, sem regras rígidas, em que o praticante coloca à prova as técnicas aprendidas, mantendo, contudo, o espírito de controle e respeito.
Já o Shiai-Kumite (試合組手) corresponde à luta esportiva, regida por regras específicas. Como toda prática competitiva, está sujeita a normas técnicas e éticas que visam preservar a integridade física e moral dos lutadores.
“Shiai-Kumite é luta esportiva, e esporte é sinônimo de preservação da integridade física e moral
— tanto a sua quanto a do oponente.”
Por isso, é necessário grande domínio técnico e autocontrole para executar golpes sem causar lesões. Durante o Shiai, técnicas descontroladas ou excessivamente agressivas são penalizadas. Mesmo em técnicas de projeção, o princípio básico é “colocar” o oponente no solo, e não “arremessá-lo”, pois o objetivo é demonstrar precisão e controle, não ferir.
Referências
TANZADEH, Allen. Karate History. Shitoryu Karate Canada. Disponível em: http://shitokai.ca. Acesso em: 24 ago. 2017.
TANZADEH, Allen. Karate History. Sensei Tanzadeh Shitoryu Karate Cyber Academy. Disponível em: http://shitokai.com. Acesso em: 24 ago. 2017.
* Tradução e adaptações dos autores.
